domingo, 20 de dezembro de 2015

O Estrangeiro – Albert Camus

ESTRANGEIRO_ CAPA-3H.inddSentou-se na cama e explicou-me que tinham andado a investigar a minha vida privada. Tinham descoberto que a minha mãe morrera recentemente no asilo. Procedera-se então a um inquérito em Marengo. Os investigadores tinham sabido que eu “dera provas de insensibilidade” no dia do enterro. “Veja se compreende, disse o advogado, custa-me um bocado perguntar-lhe isto. Mas é muito importante. E será um grande argumento para a acusação, se eu não conseguir dar resposta”. Queria que eu o ajudasse. Perguntou-me se eu, nesse dia, tinha tido pena da minha mãe. Esta pergunta muito me espantou e parecia-me que não era capaz de a fazer a alguém.

Não obstante, respondi que perdera um pouco o hábito de me interrogar a mim mesmo e que era difícil dar-lhe uma resposta.

É claro que gostava da minha mãe, mas isso não queria dizer nada. Todos os seres saudáveis tinham, em certas ocasiões, desejado mais ou menos, a morte das pessoas que amavam. Aqui, o advogado cortou-me a palavra e mostrou-se muito agitado.

Albert Camus

Sempre tive vontade de ler alguma coisa do Camus. Ele é muito elogiado por casar bem tanto a parte filosófica quanto a parte de ficção das suas obras. Autores assim são melhor compreendidos e a leitura é mais agradável do que somente engrandecedora.

Esse livro é curtinho e a parte principal envolve a forma como o protagonista Meursault vê o mundo.

Dois acontecimentos nesse livro são importantes: a morte da mãe de Meursault no início do livro com o consequente funeral e o julgamento do personagem por matar um homem em uma praia.

A história se passa na Argélia colonial e a forma como os costumes é retratada eu acho curiosas, principalmente as características étnicas dos personagens.

Meursault é um homem que não vê sentido em nada na vida. Não se importa com sentimentos e convenções pré-estabelecidas. O personagem não se preocupa em agir e reagir de determinada forma somente porque a sociedade espera assim dele.

Isso o faz sobreviver bem até ser julgado.

o estrangeiro 2

O Estrangeiro é um exemplo clássico nas aulas de criminologia, porque Meursault é julgado pelo que é, não pelo que fez. O motivo pelo qual ele mata o homem na praia não é muito claro – ele diz que o sol e o calor o influenciaram. O problema é sua falta de remorso.

O protagonista é julgado o tempo inteiro por ser frio, sobretudo por não ter chorado ou sofrido como se esperava com a morte da mãe, que estava num tipo de asilo.

A pena de Meursault é determinada por seu perigo como pessoa, não pelo crime que cometeu.

Hoje em dia pode parecer que esse tipo de coisa está superada, mas não está. Constantemente vemos “especialistas” em comportamento humano chamando os outros de psicopatas. Quem está doente, a sociedade ou quem destoa dela?

Vale a pena ler o livro, porque nos traz boas reflexões.

FDL

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